domingo, 17 de janeiro de 2010

O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

INTRODUÇÃO

Reflefindo sobre a melhor maneira de começar a escrever sobre o desenvolvimento da linguagem, decidimos começar de acordo com o que nos diz o minidicionário "Aurélio", que classifica linguagem como um substantivo feminino, significa o "uso da palavra como meio de expressão e de comunicação entre pessoas. Forma de expressão pela linguagem própria dum indivíduo, grupo e classe social. Vocabulário, palavreado.
No "Dicionário de Lingüística" ela é definida da seguinte forma: "capacidade específica à espécie humana de comunicar por meio de um sistema de signos vocais ou língua, que coloca em jogo uma técnica corporal complexa e supõe a existência de uma função simbólica e de centro nervoso geneticamente especializado". Esse sistema de signos vocais referido, utilizado por um grupo social ou comunidade lingüística constitui uma língua particular.
No "Dicionário de Comunicação", define-se de outra maneira e dizem claramente que a linguagem está ligada à lingüística e pode ser qualquer sistema de signos - não só vocais ou escritos, como também visuais, fisionômicos, sonoros e gestuais - capaz de servir à comunicação entre indivíduos. A linguagem articulada é apenas um desses sistemas. Pode ser ainda o recurso usado pelo homem para se comunicar. Instrumento pelo qual os homens estabelecem vínculos no tempo e determinam os tipos de relações que mantêm entre si.
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Na realidade o indivíduo começa a aprender o uso da linguagem ou a representar as idéias quando forma um conceito mental interno através de sua experiência. Tal experiência será um processo ativo, onde a pessoa envolvida na aprendizagem adquire seus próprios conceitos apelando para similaridades, diferenças e características especiais dos objetos e eventos. Esse conhecimento é armazenado na memória e será reconhecido no futuro sempre que ele aparecer.
Quando se vivencia a relação entre pessoas e objetos, como por exemplo; JOGAR BOLA, surgem as primeiras idéias sobre a ligação existente entre as palavras e as frases e um determinado fato ou evento. É neste ponto que começa a existir a união entre o significado (conceito) e um significante (os sons de palavras e frases). Diz-se que o código só pode ser usado apropriadamente quando o indivíduo tem conhecimentos sobre os objetos e os eventos e estabelecer corretamente a relação entre eles.
Muito interessante essa colocação Por que os bebês não nascem falando? Segundo Pinker (2002), os bebês humanos nascem antes de seus cérebros estarem completamente formados. Se os seres humanos permanecessem na barriga da mãe por um período proporcional àquele de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses, exatamente a idade na qual os bebês começam a falar, portanto, nasceriam falando.
O cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento. Nesse momento, os neurônios já estão formados e já migraram para as suas posições no cérebro, mas o tamanho da cabeça, o peso do cérebro e a espessura do córtex cerebral, onde se localizam as sinapses, continuam a aumentar no primeiro ano de vida. Conexões a longa distância não se completam antes do nono mês e a bainha de mielina continua se adensando durante toda a infância. As sinapses aumentam significativamente entre o nono e o vigésimo quarto mês, a ponto de terem 50% a mais de sinapses que os adultos. A atividade metabólica atinge níveis adultos entre o nono e o décimo mês, mas continuam aumentando até os quatro anos. O cérebro também perde material neural nessa fase. Um enorme número de neurônios morre ainda na barriga da mãe, essa perda continua nos dois primeiros anos e só se estabiliza aos sete anos. As sinapses também diminuem a partir dos dois anos até a adolescência quando a atividade metabólica se equilibra com a do adulto. Dessa forma, pode ser que a aquisição da linguagem dependa de uma certa maturação cerebral e que as fases de balbucio, primeiras palavras e aquisição de gramática exijam níveis mínimos de tamanho cerebral, de conexões a longa distância e de sinapses, particularmente nas regiões responsáveis pela linguagem. (PINKER, 2002).
Embora nem sempre seja possível chegar a um diagnóstico preciso que explique ou justifique o quadro encontrado, pode-se apontar duas classes amplas de fatores que, em muitos casos, estão atuando conjuntamente: características ou fatores relativos à criança e características ou fatores relativos ao meio.
Características do sujeito:
— alterações de natureza orgânica;
— distúrbios emocionais importantes;
— alterações de ordem cognitiva.
Características do meio:
— problemas familiares importantes;
— estimulação inadequada: falta de estimulação ou, contrariamente, níveis de exigência incompatíveis com as capacidades da criança.
A linguagem humana para ser realizada necessita a utilização de órgãos periféricos e de um sistema nervoso central apropriado. Tais órgãos, necessários à aquisição da linguagem, não são funcionais para o propósito da comunicação desde o nascimento. A criança é bombardeada por estimulações lingüísticas desde o inicio de sua existência e nem por isso ele começa a falar assim que nasce. Tal acontecimento nos leva a pensar que a linguagem se realize através de etapas sucessivas de acordo com a atualização constante de certos potenciais orgânicos cada vez mais amadurecidos. Lenneberg (1976) após estudar exaustivamente a aquisição disse que o desenvolvimento da linguagem acontece não só devido ao amadurecimento mais também que ela ocorre durante um período limitado. Isto quer dizer que se a aquisição da linguagem não acontecer num determinado período considerado "ótimo" para aprender, a aprendizagem poderá ou não acontecer mais não irá contar com as mesmas facilidades presentes no período "ótimo". Lenneberg chamou este período de PERÍODO CRÍTICO ou privilegiado. Trata-se então de um período marcado por um início e um final, onde não só a linguagem se desenvolve, mas outras habilidades também surgem e amadurecem.
A atividade verbal que prepara a criança para a aprendizagem lingüística passa por estágios característicos (sons guturais, balbucios etc.). Seja qual for o meio onde a aprendizagem da língua esteja acontecendo é difícil especificar quais foram os fatores determinantes deste início.
Se a linguagem para o homem é uma ferramenta útil na sua vida social, tal utilidade não aparece como vital para a criança. As necessidades da criança se comunicar serão fornecidas pelo meio, fazendo com que ela sinta ou não a necessidade de dizer MAMÃE aos 12 meses ou aos 8 meses. A aquisição não corresponde então a uma imposição do meio, que se fosse verdade, levaria a criança a ter urgência em se comunicar num momento preciso, o que não acontece. Esses acontecimentos levam a concluir que existe realmente um papel importante na maturação cerebral, segundo Lenneberg.


Como trabalhamos com a classe especial para deficientes intelectuais, e sabemos que o Retardo Mental é o distúrbio do desenvolvimento, cuja característica principal corresponde a alteração no funcionamento intelectual, o qual está comumente associado aos outros déficits nas condutas verbais e sociais. O desenvolvimento da linguagem é algo complexo, e que depende, de certa forma, do desenvolvimento de habilidades cognitivas e sócio-adaptativas. As crianças que são lentas em todas as fases de desenvolvimento, também serão lentas na aquisição de habilidades de linguagem.
O desenvolvimento lento afeta o modo como as crianças com Retardo Mental aprendem sobre seu mundo e as pessoas e objetos nele. A maioria das crianças com retardo são lentas em todas as áreas do desenvolvimento: habilidades motoras, socialização, autocuidados e linguagem.
Em geral, as crianças com retardo são lentas em adquirir habilidades de comunicação. Mesmo no estágio pré-lingüístico, alguns bebês e crianças pequenas com retardo são menos interativos e usam menos formas de comunicação não-verbal do que seus colegas de idade com desenvolvimento normal.
De acordo com as leituras realizadas em diversas literaturas, crianças com tipos diferentes de Retardo Mental apresentam maior dificuldade em determinadas áreas de desenvolvimento de linguagem do que em outras. Por exemplo: algumas crianças com Síndrome de Down parecem experimentar problemas particulares com sintaxe e morfologia (Stoel-Gammon, 1990). Em contraste, as crianças com Síndrome de Wilians, em geral, são proficientes em sintaxe e morfologia, apesar de apresentares habilidades semânticas deficientes (Bullugi e cols., 1998). As crianças com Síndrome de X frágil tendem a experimentar problemas particulares com habilidades pragmáticas verbais e não-verbais (Scharfenaker, 1990). Dentro de qualquer grupo de crianças com Retardo Mental, há grande variabilidade individual na aquisição de habilidades de linguagem. Com orientação, as crianças com retardo podem desenvolver habilidades de comunicação até os limites do seu potencial cognitivo e sócio-adaptativo.
Basicamente, as características mais marcantes são as não-verbais e as lingüísticas.
Características Não-Verbais.
- Pode resultar de uma grande variedade de causas.
- Problemas comumente encontrados: anomalias físicas, déficits motores gerais, problema neurológicos, perdas auditivas e visuais.
- Tendência a serem amigáveis: procuram contatos sociais.
- Distúrbios comportamentais associados: infantilidade, desatenção, hiperatividade e comportamentos estereotipados.
Características Lingüísticas.
- Quanto mais acentuado o comprometimento intelectual, mais limitado tenderá a ser o desenvolvimento da linguagem.
- A variação no desenvolvimento da fala e da linguagem entre os portadores de tal deficiência é maior que aquela observada em crianças normais.
- Os problemas articulatórios podem ser significativos, principalmente nos níveis de deficiências mais acentuados. Tais problemas resultam de atrasos no desenvolvimento neuromuscular, de dificuldades de coordenação motora, de perdas auditivas, de obstruções nasais crônicas e mesmo de possíveis deformidades orofaciais. Temos aqui fatores neurogênicos e condição músculo-esqueletais determinando tais padrões de alteração.
- Mesmo na ausência de alterações neurológicas ou de malformações orofaciais, podem ocorrer distúrbios articulatórios, neste caso caracterizando os desvios fonêmicos.
- Podem ocorrer disfluências.
- O ritmo de desenvolvimento da linguagem é lento, tendendo a seguir o mesmo curso apresentado pelas crianças normais, caracterizando-se como um atraso.
- Vocabulário tende a ser limitado e a construção de estruturas frasais mais elementares.
- As dificuldades de linguagem tendem a ser duráveis, evidenciando déficits permanentes de linguagem.
- O uso da linguagem pode lembrar padrões típicos de crianças mais novas. Inclusive com alguns momentos de fala manhosa.
Tudo isso é observável diariamente em nossas salas de aula na Escola Estadual Professor Adolpho Arruda Mello em Presidente Prudente, onde procuramos estimular essas crianças com atividades que desenvolvam sua consciência fonológica em atividades com rima, música e muitas parlendas. Os estímulos visuais ajudam a compensar uma possível dificuldade de compreensão oral e as situações concretas, contextualizadas tendem a ser mais facilmente compreendidas em relação às abstratas. Nesse caso, SZLIWOW et al (s/d) aconselham a:
-Repetir várias vezes até que a criança compreenda. Se necessário, utilizar sinônimos e dar exemplos;
-Falar daquilo que se encontra ao redor da criança;
-Utilizar frases curtas no início e torná-las mais complexas pouco a pouco, conforme o desenvolvimento da criança;
-Usar da linguagem corporal (expressão facial, gestos...);
-Complementar a comunicação com desenhos e filmes.
CONCLUSÕES GERAIS


Crianças apresentando um bom desenvolvimento adquirem linguagem no decorrer do segundo ano de vida. Ausência ou evolução alterada da linguagem podem ser indícios de problemas significativos no desenvolvimento das funções nervosas superiores.
Crianças apresentando distúrbios importantes podem ser diagnosticadas muito cedo, desde que se considere características gerais de seu desenvolvimento.
Quando houver suspeita de algum problema, não se deve deixá-lo ao sabor do tempo. É necessário encaminhar a criança a um especialista, no caso, o fonoaudiólogo.


BIBLIOGRAFIA


ZORZI, J. L. – Linguagem e Desenvolvimento Cognitivo – A Evolução do Simbolismo na Criança. Pancast, 1994.
ZORZI, J. L. – A Intervenção Fonoaudiológica nas Alterações.
http://www.enseignement.be/@librairie/documents/ressources/272/synthese/article2002.pdf. Acesso em 31 agosto 2009.
http://fonolang.blogspot.com

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